INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS

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Boletim - 298 - Setembro/2017





 

Coordenador chefe:

Fernando Gardinali Caetano Dias

Coordenadores adjuntos:

Daniel Paulo Fontana Bragagnollo, Danilo Dias Ticami e Roberto Portugal de Biazi

Conselho Editorial

IBCCRIM 25 anos

Autor: Roberto Podval

Anos ausente do IBCCrim, fui chamado em honroso convite para escrever por ocasião dos 25 anos do Instituto. O convite me fez rememorar uma importante etapa da minha vida profissional e pessoal. Seguem algumas lembranças, que servem mais do que tudo, como agradecimento:

Estava eu, num dia que não me recordo, fazendo qualquer coisa quando recebo um telefonema da minha amiga de sempre Tatiana Bicudo. Toda eufórica, me informava que acabara de ser criado um novo Instituto. As ideias eram de fato empolgantes, era algo moderno e democrático. O intuito era criar um espaço para se discutir, debater e intervir no pensamento científico criminal. Buscava-se sair da mesmice, criar algo de fato novo: um instituto que fosse completamente desvinculado e independente da coisa pública, das universidades, enfim, de qualquer ingerência política.

Só num lugar como esse, pessoas como eu (na época um jovem e desconhecido advogado) e tantos outros fomos acolhidos e respeitados como iguais. Ali, sob a batuta de Alberto Silva Franco, o instituto foi tomando vida. Ao seu redor, Vico Mañas, Sérgio Mazina, Adauto Suannes, Márcio Bartoli e tantos outros que incansavelmente Alberto agrupava, davam vida a intermináveis discussões às quintas-feiras. Ali travávamos(1) batalhas também intermináveis com Sérgio Shecaira (fruto de idiossincrasias juvenis); ali foi criado o boletim do IBCCrim, o seminário internacional, os convênios com MPs estaduais e Federais, magistraturas e defensorias.

Com muita dedicação e esforço de muitos, conseguimos o respeito do Poder Judiciário, dos intelectuais e dos professores do país todo. Na medida em que nossa importância Nacional crescia resolvemos partir para uma experiência além mar.

Cada qual arcando com sua despesas (Alberto de executiva e eu de econômica) fomos incontáveis vezes para o Velho Continente,(2) sempre com duas paradas obrigatórias:

Primeiro Paris. Alberto Silva Franco era apaixonado pela cidade Luz. Ali comíamos suflê, passeávamos sem rumo e sempre havia uma parada num restaurante exclusivamente de queijos (como nunca fui apreciador dessa iguaria, sempre a evitei). Dormíamos num hotelzinho barato, assistíamos a bons concertos sempre em ótimos lugares (eu os escolhia e o Alberto pagava), tomávamos bons vinhos (também por ele convidado).

Seguíamos então para as livrarias de Madri, onde Alberto literalmente punha tudo abaixo. Comprava dezenas e dezenas de livros, escolhia os meus, me apresentando a todos os clássicos da literatura jurídico penal e processual penal. Visitávamos as universidades e seguíamos viagem.

Depois das paradas obrigatórias, seguíamos talvez para a Alemanha ou Suíça e onde mais Alberto soubesse existir um professor interessante. Muitas vezes chegávamos sem quaisquer credenciais, mas em 15 minutos de conversa, Alberto era reconhecido. Afinal, lia tudo, sabia tudo, sempre atualizado e respeitado.

Em dado momento, resolvemos atravessar a fronteira, a caminho de nossos irmãos portugueses e, de imediato, fizemos grandes amizades com Figueiredo Dias e seus discípulos. Amizades boas, incontáveis idas e vindas que resultou numa parceria que permanece até hoje. Todas essas viagens possibilitaram o reconhecimento do IBCCrim no exterior e a vinda de grandes nomes para os seminários internacionais. Foi assim que trouxemos Roxin, Ferrajoli, Muños Conde, e o poeta Uruguaio Eduardo Galeano.

Esse pequeno relato mostra como foi possível transformar ideias em algo real e concreto. O tempo passou e todos aqueles que também por ali passaram, bebendo daquela água, de certa forma cresceram, sempre com o apoio incondicional de Alberto Silva Franco.

Como todo democrata, Alberto sempre fez questão de defender a abertura do instituto, dando boas vindas ao “novo”, sempre apoiando os jovens. Agora, passou o bastão.

Seguindo esse exemplo, nós, hoje menos jovens, talvez com um (pouco) menos de energia, também nos afastamos, depositando a esperança de que os mais novos, que compactuam da nossa mesma paixão e garra, possam seguir adiante num sonho que se tornou realidade.

Espero que essas poucas linhas, que me fizeram, com emoção, relembrar um bom período da minha vida, possam servir de estímulo – especialmente neste momento difícil pelo qual passa o Brasil – aos jovens dirigentes do Instituto.

Notas

(1) Eu e Tatiana Bicudo.

(2) Muitas vezes acompanhados, dentre outros, por Adauto Suannes; Beatriz Rizzo; Adriano Sales Vanni e Maria Fernanda de Toledo Rodovalho.

Roberto Podval
Presidente do IBCCRIM na gestão 2001-2002.
Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra em Portugal.
Advogado.



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