Publicado em 08/09/2010
Em um ato premeditado de desobediência civil, mulheres israelenses violaram a chamada Lei de Entrada em Israel, que proíbe a entrada de palestinos, e "contrabandearam" mulheres palestinas para passear em Tel Aviv, expondo-se ao risco de uma pena de dois anos de prisão.
"Quando uma lei é desumana e racista, desobedecer torna-se uma obrigação moral", disse à BBC Brasil Daphne Banai, uma das israelenses que participaram do ato de protesto.
"Enquanto os israelenses, inclusive os colonos, podem circular livremente em toda a região, os palestinos ficam presos em enclaves cercados por muros e pontos de checagem", afirmou.
Segundo as autoridades israelenses, as restrições à entrada de palestinos em Israel têm o objetivo de evitar atentados.
A proibição tornou-se praticamente hermética durante a segunda Intifada (levante palestino) que começou no ano 2000, depois de uma série de atentados suicidas realizados em grandes cidades israelenses.
Daphne, de 61 anos, contou que o passeio com as mulheres palestinas foi um dos dias "mais emocionantes e felizes" de sua vida.
"Senti uma sensação de libertação naquele dia", disse Daphne. "A ocupação e o enclausuramento da população palestina em enclaves na Cisjordânia me fazem sentir em uma prisão", disse.
"Desafiar a lei e trazer as mulheres palestinas para passear em Tel Aviv e ver o mar me fez sentir uma sensação de liberdade por um dia", disse. "Acho que a ocupação coloca não só os palestinos, mas tambem nós, os israelenses, em uma prisão."
O desafio à proibição generalizada à entrada de palestinos em Israel começou com um ato isolado da escritora Ilana Hamermann.
Em maio deste ano, a escritora, de 66 anos, publicou um artigo no jornal Haaretz, relatando que havia "contrabandeado" três mulheres palestinas, em seu carro, para dentro de Israel, e as levado para ver o mar em Tel Aviv. "Essas limitações à liberdade dos palestinos não contribuem para a segurança dos israelenses, muito pelo contrário, acho que é essa política de ocupação que nos coloca em risco", afirmou.
O gesto simbólico de Ilana comoveu mais onze mulheres israelenses, que seguiram seu exemplo e há alguns dias publicaram um anúncio assinado na imprensa local, declarando que haviam violado a lei, de maneira premeditada, e levado 12 mulheres e 5 crianças palestinas, para passear em Tel Aviv.
"Para todas as mulheres envolvidas, tanto as israelenses como as palestinas, nosso passeio foi, antes de tudo, um ato politico", disse Daphne.
Publicando esse ato de desobediência civil, as mulheres esperam gerar um debate na sociedade israelense sobre os limites da obediência e sobre o significado de leis que vigoram no país.
O grupo de direita Fórum Juridico em Prol da Terra de Israel entrou com uma queixa contra Ilana Hamermann junto à Procuradoria Geral da Justiça que, por sua vez, encaminhou o processo à policia.
A pena pela violação da Lei de Entrada em Israel pode chegar a dois anos de prisão.
As participantes israelenses estão dispostas a pagar o preço da violação da lei. "Para isso estou disposta a ficar dois anos na prisão", afirmou Daphne.
Fonte: BBC Brasil
(YOMP)
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