Publicado em 06/08/2010
Debates sobre aborto não faltam. Novelas, políticos, religiosos e estudiosos sobre o tema travam uma disputa de convencimento sobre a legalização ou não da interrompção voluntária da gravidez.
Nesse domingo, 1º de agosto, o assunto ganhou particularmente destaque porque o programa Fantástico, da Rede Globo, fez um quadro sobre o tema. A reportagem, com um tom investigativo, entrou em clínicas clandestinas de Salvador, Belém e Rio de Janeiro para denunciar o aborto clandestino. As clínicas denunciadas pelo programa televisivo eram clínicas visualmente destinadas para mulheres com poucas condições financeiras. No debate do aborto, sabe-se que muitas clínicas atendem mulheres das classes média e rica, mas tais clínicas não apareceram na reportagem. Estaria a mídia fazendo o papel da polícia?
Vale a pena lembrar que a denúncia de uma clínica no Mato Grosso do Sul, no final de 2007, que resultou na exposição pública do nome de dez mil mulheres e na condenação de muitas delas que fizeram aborto, foi desencadeada a partir de denúncia feita pela mesma emissora.
Tais denúncias também fortaleceram a criação de uma CPI do aborto.
A questão do aborto passa a ser problema de Direito Penal e não de saúde pública, como muitos defendem. E esse convencimento não é feito de maneira ética pela mídia, mostrando todas as implicações dessa defesa, como, por exemplo, o número de mulheres mortas por realizarem abortos clandestinos em lugares mais precários que as clínicas investigadas. Não dizem que as mulheres continuarão morrendo mesmo com essa perseguição às clínicas clandestinas.
Aos noticiários e os demais programas televisivos, que possuem o compromisso com a informação e o respeito aos direitos humanos, faltou trazer ao debate a defesa de “uma política pública integral de saúde que auxilie mulheres e homens a adotarem um comportamento preventivo, que promova de forma universal o acesso a todos os meios de proteção à saúde, concepção e anticoncepção, sem coerção e com respeito”.
(YOMP)
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