Publicado em 07/07/2010
A Copa do Mundo é um momento de grande agitação, propício para torcer, xingar o outro time, fazer barulho usando as vuvuzelas e até, algumas vezes, brigar.
Em maio desse ano, o filho de um ex-membro da torcida do clube Rosario Central, da Argentina, foi assassinado na porta de casa, atacado por um grupo armado que disparou cinco tiros na vítima, identificada pela Polícia como Juan Bustos, 34 anos. Os investigadores acreditam que o fato está relacionado com as disputas entre duas facções pelo poder na torcida, cujos membros planejavam viajar à África do Sul para acompanhar a Copa do Mundo deste ano.
As brigas entre os torcedores organizados no Brasil também são recorrentes. Ninguém pode esquecer o episódio alarmante da briga entre torcidas ocorrida em agosto de 1995, no Estádio do Pacaembu, com a morte de um torcedor. Sem dúvida foi um acontecimento que mereceu uma reflexão. Além de vários aspectos do plano simbólico, revela uma violência que não se justifica somente pela competição dos times, mas também por uma competição presente na própria sociedade.
O psicólogo Roberto Romeiro Hryniewicz, autor da pesquisa de mestrado Torcida de futebol: adesão, alienação e violência, afirma que: “Não é a paixão pelo futebol que causa a violência entre torcedores, mas sim a maneira como as pessoas lidam com essa paixão”.
Paixão pelo futebol. É esse o sentimento que parece justificar os gritos e pancadarias nas torcidas. Se na Copa do Mundo o país se reúne para torcer pela nação, o cotidiano do futebol não representa tanta união. A lista de torcedores mortos em jogos é extensa.
É possível levantar algumas razões para justificar e explicar a violência entre "torcidas": a juventude, cada vez mais esvaziada de consciência social e coletiva; o modelo de sociedade de consumo instaurado no Brasil, que valoriza a individualidade, o banal e o vazio; e o prazer e a excitação gerados pela violência ou pelos confrontos agressivos.
Por isso, deveríamos torcer menos? O futebol deveria ser menos violento? A procura por essas respostas, muitas vezes, está nas relações sociais existentes, sendo a violência no futebol apenas uma expressão delas.
A violência no esporte é uma das faces da violência cotidiana na sociedade. Se o esporte já serviu a ditadores e a ditaduras, também pode nos oferecer grandes lições de solidariedade, como o caso da “democracia corinthiana”. Por outro lado, o discurso de que temos de “vencer na vida” a todo custo também se desloca para os campos de futebol. Ora, “senão vencemos no trabalho, pelo menos nosso time tem que vencer!” “Se nossa nação é tão desigual, pelo menos a Copa ela precisa vencer.” Cabe termos essa reflexão, mas por óbvio, não deixaremos de torcer, tanto pelos nossos times, quanto por mudanças.
(YOMP)
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