Monografia nº 07 - Criminologia AnalíticaIBCCRIM 1998PremiadaJoe Tennyson Velo
O crime pode ser então um ato puro, sem pensamento. Será neste caso a reprodução do estado primitivo da conduta humana. Poderá ser também um ato "pensado equivocadamente". Representará neste caso uma conduta equivocadamente motivada, por isso mesmo sempre frustrante e tendente a se repetir, na busca da satisfação almejada e jamais alcançada. Ou o crime poderá ser ainda um ato acompanhado de pensamento, pensamento não equivocado, porém não necessariamente identificado com o do grupo majoritário. De qualquer forma, torna-se evidente a importância de se analisar e compreender a interação entre o ato criminoso e o pensamento que o acompanha ou que não o acompanha. Pensamento entendido aqui em toda a dimensão do psiquismo humano. Psiquismo, não enquanto restrito à existência individual, mas enquanto inerente à própria história do homem. Trata-se pois de uma busca de compreensão do ato criminoso dentro de uma visão interdisciplinar, transdisciplinar, muito além dos limites do Direito Penal. Ora, é exatamente esse o enfoque e preocupação deste brilhante trabalho de Joe Tennyson Velo, que tenho a grande honra e satisfação de apresentar, o qual, com sobejos méritos, acaba de ser premiado pelo IBCCRIM, em seu concurso de monografias de 1998. Joe Tennyson Velo nos oferece um trabalho que, além de profundo, atrevo-me a dizer que também é ousado. Ousado porque tem a coragem de revalorizar a Criminologia Clínica, a abordagem clínica do agente criminoso e de mostrar certos exageros, caminhos desviantes e contraditórios da Criminologia Crítica. Valoriza a compreensão clínico-psicológica por parte de todos os operadores de Direito. Ainda, ao revalorizar o paradigma etiológico (o que não deixa de ser uma ousadia na atualidade), ele o faz com muita consciência, procurando desvincular a etiologia do ranço mecanicista do positivismo, identificado com o causalismo (ainda que sem negar a realidade das relações causais) e apontando para uma nova direção do paradigma etiológico, o finalismo, estribado nos conceitos e princípios junguianos. O trabalho rediscute com muito mérito, crítica e profundidade, à luz da psicologia analítica (Jung), a questão da imputabilidade. Reconhece os valores da Criminologia Crítica, retoma alguns de seus princípios fundamentais, sob a ótica da psicologia analítica e, ao final, acaba desenvolvendo uma criminologia (clínica) analítica e crítica.
A premiação e publicação do presente trabalho mostram-se oportunas para a valorização da visão interdisciplinar do Direito Penal e, nessa perspectiva, para a valorização da própria Psicologia, no âmbito da Criminologia e da execução da pena. De se lembrar que a valorização da interdisciplinaridade integra os princípios norteadores do IBCCRIM. Da leitura de Joe Tennyson Velo, concluímos: não basta classificar o ato como criminoso, não basta tipificá-lo. É necessário pensar sobre ele. Só assim poderemos saber se o autor do crime "pensa" sobre seu ato, o que "pensa" e como ele poderia mudar esse "pensamento"... quando for o caso de mudá-lo. Afinal, no princípio, era somente o ato; depois...o homem começou a pensar sobre seus atos. Que o Direito Penal também faça esta caminhada. Este é o apelo de Joe Tennysom Velo. Como citar: Esta obra encontra-se à disposição dos associados para consulta na Biblioteca do IBCCRIM |
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